Uma pesquisa da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) identificou boas práticas para produção sustentável de cachaças no município de Piranga, no Campo das Vertentes. O trabalho acompanhou o processo produtivo de duas cachaçarias da cidade.
O objetivo foi identificar e descrever a adoção de técnicas para reduzir os impactos ambientais negativos e aumentar a sustentabilidade na produção sem interferir na qualidade do produto.
“Depois de visitar o local onde é produzida a Cachaça Vale do Piranga, e de ter contato também com o produtor da Cachaça Pirapetinga, Tancredo Furtado, percebi que as práticas adotadas vão de encontro a um dos pilares da agroecologia, que é a sustentabilidade. O estudo mostra que, além da melhoria ambiental e da obtenção de um produto com alto valor agregado, é possível reduzir os custos com a reutilização de resíduos em substituição, por exemplo, aos adubos no canavial”, explicou a pesquisadora.
As práticas adotadas devem valorizar o uso eficiente e a preservação dos recursos naturais, a melhoria da qualidade do solo, o aumento da biodiversidade, a utilização de práticas agroecológicas para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas e o uso de material propagativo de qualidade e de boa procedência.
No caso das 2 propriedades acompanhadas inclui, ainda, o aproveitamento de vários subprodutos. Segundo a pesquisadora, a água potável é advinda de fontes naturais das próprias fazendas, regulamentadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Já a água de resfriamento da cachaça é reutilizada.
"Além disso, toda sobra de material de produção também: o bagaço, para fazer o fogo da caldeira, e a pressão do vapor para o aquecimento do alambique na destilação da cachaça, na higienização de equipamentos e na padronização dos produtos; o vinhoto (subproduto da destilação), as águas de lavagens de equipamentos e as cinzas do bagaço queimado, são utilizados nos canaviais”, descreveu Wânia.
Um dos locais onde o trabalho foi realizado é a Fazenda Boa Vista, que produz a Cachaça Vale do Piranga. De acordo com o produtor Sérgio Maciel ele começou a ajudar o pai, que produzia cachaça desde 1975.
“Percebi que havia pouca literatura sobre o tema e propus implementarmos aos poucos os princípios de sustentabilidade que aprendi na faculdade. Fiz cursos, conheci outras propriedades na região, e há 5 anos assumi a gestão do alambique. Hoje me dedico integralmente a isso”, conta Sérgio.
Apesar do desempenho sustentável para fabricar o produto, Maciel contou que produção não é certificada como orgânica. “Ainda faltam alguns itens e recursos, mas eu vou chegar lá. Eu faço tudo que posso para aproveitar 100% do que temos na propriedade e evitar danos ao meio ambiente. Quero investir em energia fotovoltaica, para compensar o consumo de energia elétrica. Outra iniciativa é a compensação da madeira que usamos no envelhecimento, por meio do plantio e da produção de mudas de umburana para a utilização própria e para doação a outros produtores, via associação”, completou.
O produtor Tancredo Furtado assumiu a produção da cachaça há 5 anos com a intenção de produzir cachaça orgânica para exportar para o Canadá. Antes de construir seu próprio alambique, há cerca de 3 anos, produzia em parceria com Sérgio Maciel.
Atualmente o alambique é registrado como totalmente orgânico, em conformidade com as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e com as exigências dos institutos estaduais de Agropecuária.
Dentre os procedimentos adotados, o produtor cita algumas práticas:
O trabalho foi registrado no capítulo “Cachaça Orgânica e Sustentabilidade: experiências, perspectivas e desafios”, que faz parte do volume 4 do livro eletrônico “Agroecologia: métodos e técnicas para uma agricultura sustentável”, disponível para gratuito.
Uma circular técnica sobre o tema está em fase de elaboração e vai descrever atividades e práticas sustentáveis no processo produtivo, trazer considerações sobre o processo de certificação de conformidade orgânica e listar os desafios e as dificuldades encontradas na cadeia produtiva da cachaça orgânica e do processo tradicional sustentável.
“Estamos conversando sobre uma parceria para realização de cursos que incluem práticas sustentáveis na agricultura e visitas às propriedades para que os interessados vejam na prática como é realizado o processo de produção”, afirmou a pesquisadora.
Fonte: G1